Para falar um pouco sobre esse espetacular trio de duração relâmpago e dessa linda canção, se faz necessário conhecer um pouco a história da dona dessa bela voz sul coreana. Lee Ji Yeon, ou Jini como é conhecida artisticamente, nasceu em 23 de abril de 1982. Aos dois meses de idade, seus pais saíram e a deixaram na casa de avó, porém seus nunca voltaram. O que voltou foi apenas a triste notícia de que haviam falecido em um grave acidente de carro. Tão pequena e sem saber o que havia acontecido, foi levada para viver definitivamente com sua avó em um bairro muito pobre da Coréia do Sul, o Dae Gu. A pobreza era tão grande que faltava comida para a avó e para a neta. Ali Jini viveu até os cinco anos de idade, porém as condições precárias estavam cada vez mais difíceis a ponto de não possuírem água e energia elétrica em casa. Vendo que ali não era o lugar certo para sua neta, pois não teria uma vida digna passando tantas necessidades básicas, decidiu entregá-la para adoção com a esperança de que ela pudesse encontrar uma vida melhor com uma nova família que a amasse.
Mais uma vez Jini era separada de sua família, agora a única que lhe restava. Foi entregue ao Centro de Adoção Cristã de Seul e em um curto período passou por sete diferentes lares. Ela tinha medo de crescer com alguém que ela pudesse perder novamente e preferia ficar no dormitório junto com outras crianças que aguardavam adoção do que ser adotada. Jini, tinha esperança de rever sua avó, conforme havia prometido que faria um dia. Certo dia, houve uma grande festa no orfanato. Era comum fazerem uma festa toda vez que uma criança conseguia ser adotada, era como uma festa de despedida e de desejo de felicidades a nova vida que a esperava. Durante a festa, Ji foi informada que ela era a criança adotada.
Tudo parecia mágico para Ji Yeon, a mudança para Chicago quatro meses depois da adoção e tudo o mais a fascinava. A casa de classe média parecia um castelo para ela e a possibilidade de ir a escola também a encantava. Ficou tão feliz em sua primeira noite naquela nova casa que não conseguiu dormir e se pôs a cantar a noite toda, nascendo ali a sua paixão pela música. Sua nova mãe a ensinava inglês e matemática em casa para que não tivesse tanta dificuldade quando fosse para a escola. Ji foi para escola e se destacava, mas ainda assim sofria muito preconceito. Ela acreditava que por ser branca, as crianças americanas não iriam zombar dela, pois ela se sentia igual. Mas na verdade, havia algo que não dava para esconder: ela era asiática.
A partir dai, Ji Yeon teve um novo nome: Thereza. Aprendeu o inglês e aos poucos foi deixando o coreano para trás. Aulas de piano faziam parte da rotina de Ji. Começou a escrever poemas que retratavam seus sentimentos e que posteriormente viraram músicas. Participou de diversos concursos musicais do qual foi vencedora. Certo dia, participou de um concurso de karaokê e foi a vencedora. Nessa ocasião, haviam diversos recrutadores de gravadoras presentes no evento, e um em especial se interessou por Ji. Chegou em casa e tomou coragem para contar aos pais sobre a oferta da gravadora, uma vez que por ter apenas catorze anos na época, precisava de autorização para assinar o contrato. Seus pais riram, em especial sua mãe que por anos dizia que ela era feia e que não conseguiria nada. Eles nunca tinham visto ela cantar e tão pouco sabiam da paixão de Ji pela música, sendo assim, trataram a situação como uma fantasia passageira de criança e não deram autorização para que o contrato fosse assinado.
Aos dezesseis anos uma nova oportunidade de trabalho, dessa vez pela Brothers Enterteinment e mais uma vez, não foi autorizada pelos pais a assinar o contrato. Além de se encontrar na adolescência, que é uma época super complicada para todo mundo, um de seus amigos havia se suicidado e seus pais se divorciaram. Sua mãe que tinha vários distúrbios psicológicos culpava a filha pela separação. Suas notas na escola despencaram e seu relacionamento com o pai ia de mal a pior. Em meio a tanto estresse, Ji pensou em cometer suicídio, mas felizmente não o fez.
Quando completou dezoito anos e se viu livre para correr atrás de seus sonhos, procurou uma gravadora e foi para a Coréia. Em 2001 estreou como integrante do trio Kiss, formado por ela, Mini e Umi. A música de lançamento do grupo foi "여자 이니까" (je jya i nikka). Você conhece essa música, só não deve se lembrar. Vou refrescar sua memória. Lembra de um vídeo clipe ultra romântico de um fotografo coreano e de uma moça coreana de quase nove minutos de duração, onde no final ela perde a visão em decorrência de um acidente com um produto usado para revelação de fotografias, e o fotografo por quem a moça do clipe é apaixonada, doa os próprios olhos para ela, sacrificando a sua visão por amor. Essa é uma música tão atraente, que ficou nas paradas do mundo todo por vários anos.
Por erros da gravadora, o grupo se separou em março de 2002, mas mesmo depois da precoce separação, o clipe era um dos mais acessados no youtube e a música referência em todo o mundo. Ji voltou para os Estados Unidos muito desapontada, mas foi surpreendida pelos fãs que fizeram uma votação pela internet para que ela se apresentasse no VMA 2002. Infelizmente, o programa que foi ao ar na televisão americana foi super editado e não foi possível que os fãs vissem todo o agradecimento que Ji tinha feito a todos eles pelo carinho recebido nessa fase.
Quatro dias antes de Ji voltar a Coréia do Sul, ela sofreu um grave acidente de carro, mas milagrosamente com ela só ocorreram leves arranhões. Ji viu aquilo como uma segunda chance e agradeceu a Deus pelo livramento, decidindo de uma vez por todas a lutar pelos seus sonhos na música. Produzida por J-Entercom voltou aos palcos em 2004, dessa vez em carreira solo. Gravou várias músicas e dentre eles regravou em inglês a música romântica que esta até hoje nas paradas de Love Songs.
Pra matar a saudade dessa música linda de uma época que sem dúvida foi a melhor para a música no mundo, segue o clipe "여자 이니까" ou simplesmente: Because I´m A Girl. Ah, e tentem não se emocionar ou simplesmente separe uns lenços antes de assistir, pois a produção acaba por nos arrancar lágrimas no final.
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